Saúde

Como falar sobre dor sexual com seu médico

O sexo não deve machucar, independente de você estar fazendo sexo pela primeira vez ou já ter passado pela menopausa. No entanto, até 20% das mulheres lidam com dispareunia, que é o termo clínico para sentir dor persistente durante o sexo, e três em cada quatro mulheres lidaram com dor sexual pelo menos uma vez na vida.

Se você está sentindo dor algumas vezes ou o tempo todo quando está fazendo sexo, geralmente há uma causa subjacente que pode ser remediada ou pelo menos aliviada, seja secura vaginal, uma IST ou uma condição como endometriose ou vaginismo.

O primeiro passo é conversar com seu médico para que você possa entender o que está acontecendo e começar a buscar soluções ou tratamento. Porém, conversar com seu médico sobre essas coisas pode não ser algo tão fácil.

As barreiras para obter cuidados para a dor sexual

“Existem muitas barreiras para o acesso a cuidados para dor pélvica e sexual, sendo a primeira o estigma”, diz Sonia Bahlani, ginecologista e obstetra especializada em dor pélvica. “A dor sexual e pélvica é frequentemente subnotificada e diagnosticada erroneamente porque muitos atrasam ou se recusam a procurar atendimento por causa da vergonha e do estigma associados a esses distúrbios”.

Em geral, falar sobre sexo em um ambiente de saúde pode parecer realmente intimidante, embaraçoso ou até traumatizante para algumas pessoas, especialmente se você tiver que tomar a iniciativa e trazer à tona porque seu médico não perguntou.

Um estudo de 2012 descobriu que apenas cerca de 40% dos obstetras/ginecologistas não perguntam sobre problemas sexuais, e um quarto deles também expressa desaprovação dos hábitos sexuais de seus pacientes quando essas conversas surgem. Além disso, muitas pessoas que lidam com dor pélvica dizem que suas preocupações foram descartadas ou não levadas a sério por profissionais de saúde.

Emily Sauer, fundadora e CEO da OhNut, uma ferramenta vestível simples projetada para ajudar pessoas que sentem dor durante a relação sexual, diz que ela mesma experimentou esse tipo de rejeição por ginecologistas por mais de uma década.

Nossas instituições médicas, em geral, historicamente giraram em torno do modelo biológico masculino, diz Sauer, e há uma grave falta de pesquisa e educação sobre preocupações sexuais femininas e saúde pélvica. Isso significa que não apenas muitos médicos sabem pouco sobre como lidar com a dor sexual das mulheres, mas muitas mulheres não sabem como explicar a dor que estão sentindo.

“Com nossa atual falta de educação sexual e pélvica, é quase impossível saber o que é ‘normal’ ou ‘não normal’ para nós”, explica Sauer. “Sem linguagem, particularmente linguagem que não nos envergonhe, como podemos começar a defender nossa saúde?”

Como obter o cuidado que você precisa

Apesar das barreiras, a boa notícia é que mais e mais pessoas estão começando a falar sobre suas experiências com dores pélvicas e sexuais, e receber tratamento e apoio adequado está se tornando cada vez mais acessível. Se você é alguém que lida com a dor durante o sexo, aqui está por onde começar.

Encontre o médico certo

“Há um número limitado de profissionais que se especializam no campo da saúde sexual. Em última análise, isso pode levar a erros de diagnóstico de pacientes e falhas no acesso a planos de tratamento precisos e eficazes”, explica Bahlani.

Você pode definitivamente começar conversando com seu médico clínico ou ginecologista. Dito isto, é extremamente importante certificar-se de que você está sendo atendido por um profissional que levará sua dor a sério. Pode ajudar procurar especificamente um médico que não apenas se especialize em saúde sexual, mas também tenha experiência específica no tratamento de pacientes que lidam com dores sexuais e pélvicas.

Pesquise por médicos em sua área no Google utilizando termos como sexo doloroso, dor pélvica, dispareunia, vaginismo e vulvodinia. Também pode ser útil participar de grupos do Facebook ou outras comunidades online para pessoas que lidam com a dor sexual para obter algumas recomendações médicas.

“Se o seu médico não está ajudando você, há muitos por aí que vão te ajudar, que te entendem, que se importam”, explica Bahlani. “Você conhece melhor seu corpo. Eu acredito firmemente e verdadeiramente nisso. Se algo parecer errado, com seus sintomas ou seu médico, procure mais cuidados.”

Vá preparada

Pode ajudar saber exatamente sobre o que você quer falar antes de entrar no consultório do seu médico, incluindo detalhes precisos sobre o tipo de dor sexual com a qual você está lidando. É claro que, muitas vezes, no momento da consulta, pode parecer difícil encontrar as palavras para descrever o que você está passando, e não ajuda se o seu médico não estiver fazendo as perguntas certas.

“Há uma enorme lacuna na comunicação e educação de ambos os lados da relação paciente/médico, uma lacuna que estamos trabalhando ativamente para preencher”, explica Sauer. A esperança é que a avaliação facilite muito a conversa inicial com seu médico, e ajude a obter os encaminhamentos apropriados para um especialista, se necessário.

Quando você chegar lá, também traga ou tenha acesso a todos os seus estudos de imagem anteriores, exames, anotações médicas e histórico de procedimentos para sua consulta, acrescenta Bahlani.

Confie no processo

Às vezes, as pessoas pesquisam intensamente seus sintomas antes de uma consulta médica e chegam esperando um diagnóstico específico, mas desistem se não receberem o diagnóstico ou plano de tratamento que esperavam, explica Bahlani. Especialmente se você encontrou um especialista, Bahlani incentiva as pessoas a manterem a mente aberta e a adotarem as estratégias recomendadas pelo médico.

“Tratar a dor pode ser um processo lento”, explica Bahlani. “A dor é multifacetada, exigindo uma abordagem multidisciplinar. Costumo comparar o tratamento da dor pélvica a descascar uma cebola porque tratar um componente da dor pode revelar outros sintomas incômodos. Entenda que não existe pílula mágica. É um processo, mas vale a pena.”

“O trabalho em equipe faz o sonho funcionar. É importante abordar o tratamento da dor pélvica como uma parceria colaborativa. Estamos trabalhando juntos por um objetivo”, acrescenta ela.

Conclusão

“Quando se trata de saúde sexual, cabe ao paciente defender a si mesmo”, explica Sauer. Iniciar conversas como essa com seu médico pode parecer assustador, mas é o primeiro passo para obter os cuidados que você precisa e merece.

Lembre-se: você não precisa conviver com a dor sexual.

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